Projeto Almanaque e uma reflexão

Matheus Pires Cardoso
3 min readDec 27, 2022

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Decide rever este que foi mais uma das investidas de Hollywood sobre o assunto mais batido da ficção cientifica: Viagem no tempo. Não tem como negar que há uma certa fixação no assunto que supera até mesmo os físicos de youtube. Mas enfim, o ponto é que viagem no tempo “farofou” e depois de Vingadores: Ultimato já é meio que mais do mesmo.

Mas não é esse o ponto que eu quero chegar escrevendo sobre esse filme que é uma mistura de The Chronicle, Projeto X e De volta para o futuro. Meu ponto é como esse filme reflete sobre algo que nós seres sociáveis fazemos com frequência: repetir erros esperando resultados diferentes. Filmado no modo found footage acompanhamos a vida Davin Raski um jovem no seu ultimo ano no Ensino Médio, nerd e com nenhuma desenvoltura com garotas (o que esperar de um filme produzido pela MTv além dos esteriótipos de sempre) que pretende lançar sua candidatura ao MIT. Ele consegue, porém, sem uma bolsa de estudos, o que dificulta já que a mãe está desempregada. É nesse clima que ele encontra uma camera antiga do pai rever a gravação do seu aniversário de 10 anos e vê a si mesmo adulto na gravação. Daí se desencadeia o encontro de um projeto secreto feito pelo pai para um departamento peculiar do Governo americano. O pai havia encontrado um jeito de se deslocar no tempo.

A partir daí devemos suspender qualquer suspeita de que um aluno de ensino médio poderia reproduzir todo um projeto de uma vida no porão de casa. Com isso você se diverte com as tramoias que o adolescente fará junto com seus dois amigos, a garota que ele tá a fim e a irmão mais nova. Ganham na loteria e conseguem um jeito de serem vips em um evento musical que já havia passado. Mas nem tudo são rosas. Tudo que fazem resulta em uma mudança no futuro, causa e efeito, o filme trás um tipo de efeito borboleta, muda um milímetro do passado e uma catástrofe acontece no futuro. Então David percebe que não é uma boa ideia usar a máquina do tempo e tenta reverter certos eventos (me impressiona que o filme simplesmente ignorou qualquer paradoxo que envolve o tema) e que o caos começa a se alastrar culminando até mesmo na perda da garota que ama.

No fim ele chega na conclusão triste o que já era esperado pois um pensamento te acompanha todo filme “tudo parece muito bom então tem algo errado”. David então percebe que a única solução para o caos criado é evitar o seu encontro com o projeto do pai. E para isso teria que voltar até sua festa de aniversário de dez anos e destruir o projeto do pai. Explicando seu aparecimento na fita. E para casar com ideia do found footage a câmera que passou a odisseia toda ligada nos contando as desventuras do garoto e encontrada por ele e sua irmã repetindo a cena inicial, o que se segue é uma resposta de que mesmo sabendo de tudo que ocorreu David decidi repetir tudo que fez.

David é todos nós, que vemos nos livros, nas filmagens e em qualquer tipo de registro os erros cometidos no passado e insistimos e tentar novamente e achar que obteremos resultados diferentes. Um exemplo típico é a insistência nas ideias do comunismo em pleno século XXI. Onde qualquer fonte histórica disponível já nos garante o fracasso dessa investida. A volta de um político ao poder mesmo sabendo todas as suas tramoias e crimes do passado. A insistência em achar que calar coercitivamente vozes dissonantes das ideias em vigor fará algum efeito benéfico. Enfim, o filme vai se repetir e vamos agir da mesma forma sem mudar uma vírgula. Na verdade faremos como David, vamos ver toda a fita e ficaremos fascinados pelas tentativas e tentaremos novamente achando que agora vai dar certo. Então Projeto Almanaque fracassa em ser mais um ficção científica e vira uma crítica à nós que agimos como adolescentes brincando com tempo sem perceber o caos que estamos criando, mas na vida real não temos uma máquina do tempo para apagar nossas burradas. O caos será debitado em quem vier depois.

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